BLOG DO PANNUNZIO
O último post
Por Fábio Pannunzio em 09/10/2012 na edição 715
Reproduzido do blog do autor, 26/9/2012; intertítulos do OI
Reproduzido do blog do autor, 26/9/2012; intertítulos do OI
Este é o último post do blog do Pannunzio. Escrevo depois de semanas de
reflexão e com a alma arrasada – especialmente porque ele representa
uma vitória dos que se insurgem contra a liberdade de opinião e
informação. O blog nasceu em 2009. Veiculou quase oito mil textos. Meu
objetivo era compor um espaço de manifestação pessoal e de reflexão
política. Jamais aceitei oferta de patrocínio e o mantive exclusivamente
às expensas do meu salário de repórter por achar que compromissos
comerciais poderiam conspurcar sua essência.
Ocorre que, em um país que ainda não se habituou à crítica e está
eivado de ranços antidemocráticos, manter uma página eletrônica
independente significa enfrentar dificuldades que vão muito além da
possibilidade individual de superá-las. Refiro-me às empreitadas
judiciais que têm como objetivo calar jornalistas que não se submetem a
grupos políticos, ou a grupos de interesse que terminaram por
transformar a blogosfera numa cruzada de mercenários virtuais.
Até o nascimento do blog, enfrentei um único processo judicial
decorrente dos milhares de reportagens que produzi para a televisão e o
rádio ao longo de mais de três décadas. E ganhei. Do nascimento do blog
para cá, passei a responder a uma enxurrada de processos movidos por
pessoas que se sentiram atingidas pelas críticas aqui veiculadas. Alinho
entre os algozes o deputado estadual matogrossense José Geraldo Riva, o
maior ficha-suja do país; uma quadrilha paranaense de traficantes de
trabalhadores que censurou o blog no fim de 2009; e o secretário de
segurança de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, cuja orientação
equivocada acabou por transformar a Rota naquilo que ela era nos tempos
bicudos de Paulo Maluf.
O espaço vai continuar
A gota d’água foi uma carta que recebi do escritório de advocacia que
representa Ferreira Pinto num processo civil, que ainda não conheço,
comunicando decisão liminar de uma juíza de primeiro grau que determinou
a retirada do ar de um post cujo título é “A indolência de
Alckmin e o caos na segurança pública”. O texto contém uma crítica dura e
assertiva sobre os desvios da política adotada pelo atual secretário e
pelo governador, mas de maneira alguma contém afirmações caluniosas,
injuriosas ou difamatórias. A despeito dessa convicção, o post
já foi retirado do ar. Determinação judicial, no entendimento deste
blogueiro, á para ser cumprida. Vou discuti-la em juízo assim que
apresentar minha defesa e tenho a convicção de que as pretensões
punitivas de Antônio Ferreira Pinto não vão prosperar.
Ocorre que o simples fato de ter que constituir um advogado e arcar com
o ônus financeiro da defesa já representa um castigo severo para quem
vive exclusivamente de fontes lícitas de financiamento, como é o meu
caso. E é isso o que me leva à decisão de paralisar o blog. A cada
processo, somente para enfrentar a fase inicial, há custos que
invariavelmente ultrapassam cinco ou dez mil reais com a contratação de
advogados – e ainda assim quando os honorários são camaradas.
É por estas razões que esta página eletrônica vai entrar em letargia a
partir de agora. O espaço vai continuar aqui, neste endereço eletrônico.
O acervo produzido ao longo dos últimos quatro anos continuará à
disposição dos internautas para consulta. E eventualmente, voltarei a
dar meus pitacos quando entender que isso é necessário. Mas a produção
sistemática de textos está encerrada.
Pressão não dobrou o blogueiro
Espero voltar a esta atividade quando perceber que o país está maduro a
ponto de não confundir críticas políticas com delitos de opinião.
Quando a manifestação do pensamento e a publicação de fatos não enseje
entre os inimigos da liberdade de imprensa campanhas monstruosas como
esta que pretende “kirsnhnerizar” o Brasil, trazendo de volta o
obscurantismo da censura prévia.
Por fim, digo apenas que essa pressão judicial calou o blog, mas não
conseguiu dobrar a opinião do blogueiro. E que me sinto orgulhoso por
ter conseguido cumprir o compromisso que me impus de respeitar a opinião
alheia mesmo quando ela afronta a do editor. Aqui, nunca houve censura a
comentários dos leitores que discordavam da minha maneira de ver o
mundo. E esta é minha prova de apreço pela liberdade de expressão –
inclusive quando ela me desfavorece.
A vocês que me acompanharam, deixo meu muito obrigado. A gente vai continuar se encontrando em outra seara, a da televisão.
Muito obrigado. E até breve.
***[Fábio Pannunzio é jornalista]
Nenhum comentário:
Postar um comentário